Para muitos consumidores e profissionais do setor, os cafés especiais e o comércio direto estão interligados. Construir relações de trabalho fortes e mutuamente benéficas entre produtores e torrefadores é frequentemente visto como a pedra angular do estabelecimento de uma cadeia de abastecimento verdadeiramente sustentável.
Da mesma forma, pode haver uma boa parcela de torrefadores de menor porte que estabelecem parcerias de longo prazo com pequenos produtores para trabalharem em estreita colaboração.
Simultaneamente, os agricultores necessitam de capital e recursos para cultivar cafés especiais, pelo que as explorações maiores têm frequentemente mais capacidade para investir na melhoria da qualidade e dos rendimentos.
Ambos os exemplos são certamente verdadeiros – com pequenas e grandes explorações agrícolas desempenhando um papel enorme na produção global de cafés especiais. Então, onde ficam os produtores de café de médio porte?
Segundo Ana Sofia Narvaez, Construtora de Relacionamento da Caravela Coffee, no que diz respeito a áreas de terreno superiores a cinco hectares, torna-se mais difícil identificar exatamente qual é a dimensão das explorações. Em última análise, depende do próprio país de origem, uma vez que a escala de produção é um fator determinante.
“Um produtor no Brasil que possui uma fazenda de 25 ha provavelmente é considerado de pequena escala”, diz Ana, que é gerente de relacionamento com o cliente da Doselva – empresa de temperos orgânicos que atua na América Central. “Mas no contexto da Nicarágua, uma fazenda desse tamanho é média.
“No entanto, no contexto do mesmo país, um produtor com uma exploração agrícola de 200 ha pode pensar que uma exploração agrícola de 25 ha é pequena”, acrescenta.
Outro indicador útil do tamanho da propriedade é se um produtor realiza as suas próprias práticas de processamento pós-colheita no local, incluindo:
Processamento (como lavado, natural, mel ou técnicas mais avançadas) e secagem
Via úmida (retirando as sementes da polpa da cereja do café)
Via seca (retirando o pergaminho dos grãos)
Descasque, classificação e classificação
Alguns produtores de pequena escala podem possuir ou utilizar micromoinhos ou, alternativamente, transportar as suas cerejas para instalações maiores para serem processadas por terceiros. Entretanto, as explorações agrícolas de média e grande dimensão têm maior probabilidade de operar ou de ter acesso a instalações maiores que processam maiores volumes de café.
O contexto geográfico ainda é importante aqui, no entanto na América Central, por exemplo, muitos produtores processam seu próprio café, independentemente do tamanho da fazenda.
Em primeiro lugar, é extremamente importante enfatizar que cada fazenda que cultiva café com pontuação igual ou superior a 80 pontos tem um lugar na indústria de cafés especiais – não importa seu tamanho ou se processa seu próprio café.
Os cafés especiais muitas vezes concentram-se principalmente nos pequenos produtores. De acordo com a TechnoServe, mais de 80% dos 12,5 milhões de famílias de pequenos produtores de café do mundo vivem abaixo da linha da pobreza. Desenvolver relações mais resilientes e de longo prazo com estes produtores e comprar mais café destes é um passo importante para melhorar os seus rendimentos e, assim, apoiá-los no aumento da qualidade e dos rendimentos.
Enquanto isso, geralmente é mais fácil ver onde fazendas maiores podem se encaixar na produção de cafés especiais. Como é consideravelmente mais provável que estes produtores tenham mais recursos disponíveis e melhor acesso ao capital, podem muitas vezes investir mais na melhoria da qualidade ou mesmo experimentar técnicas de processamento novas e avançadas com maior sucesso em determinados lotes.
Um produtor que possui uma estação de processamento e secagem bem estruturada tem mais chances de manter padrões de qualidade consistentes com maiores volumes de café vendido.
O nível de qualidade do café depende, em última análise, de cada exploração agrícola, dos seus objetivos comerciais e do acesso a recursos e financiamento.
Os métodos de processamento, as condições meteorológicas e do terreno, o acesso à tecnologia, a implementação de melhores práticas e as variedades disponíveis também precisam ser contabilizados.
Dado que terão mais pessoal, as explorações agrícolas de média e grande dimensão terão maior probabilidade de conseguir controlar e gerir estas diferentes variáveis de forma mais eficaz – e, assim, aumentar os volumes de café especial que produzem.
A produção brasileira de café atingiu uma colheita de 55,1 milhões de sacas de 60kg beneficiadas em 2023, um crescimento de 8,2% em relação ao ciclo de 2022, como mostra o 4º Levantamento da de Café 2023, divulgado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em Dezembro de 2023.
O incremento é influenciado pela recuperação da produtividade, em torno de 6,3%, chegando a 29,4 sacas colhidas por hectare.
O bom resultado é reflexo da recuperação da produção das lavouras de café arábica, que representa 70,7% do volume total de café produzido no país. Com produção de 38,9 milhões de sacas, crescimento de 18,9%, ocasionado pelas condições climáticas mais favoráveis.O aumento da produção na atual safra possibilitou tanto a recuperação na oferta interna quanto nas vendas ao mercado internacional.
Com todo esse crescimento, o mercado favorece o crescimento de todos os produtores de café, principalmente do pequeno e. médio porte.
O mercado ultra-premium
Os produtores que pretendem entrar no mercado de café ultra-premium têm de inovar continuamente, quer seja aperfeiçoando os seus métodos de processamento ou plantando variedades raras.
A tentativa e o erro são um aspecto essencial, juntamente com o desenvolvimento de uma compreensão profunda das melhores práticas agrícolas.
As vantagens de comprar café em fazendas de médio porte
É claro que há benefícios em obter café de explorações agrícolas de qualquer tamanho, mas os produtores médios e grandes venderão naturalmente volumes mais elevados – e potencialmente uma maior variedade de cafés, incluindo diferentes variedades e métodos de processamento.
Esses produtores também poderão ter operações mais agilizadas e ter maior controle sobre os custos de produção. Eles também podem ter melhor acesso ao financiamento e ao crédito para a produção de café e podem ter maior poder de negociação na venda do seu café.
As explorações agrícolas de média e grande dimensão podem, em teoria, também implementar mudanças nas suas práticas agrícolas de forma mais eficiente. A tarefa pode ser demasiado desafiante (ou mesmo impossível) para alguns pequenos agricultores que têm menos acesso ao capital, especialmente aqueles que não podem arriscar uma queda na qualidade ou nos rendimentos.
Isso não quer dizer, contudo, que gerir explorações agrícolas maiores e forças de trabalho maiores também não seja difícil. Com maiores volumes de produção, os produtores precisam contratar mais funcionários – incluindo catadores sazonais – o que exige mais treinamento e investimento.
Não importa o seu tamanho, cada fazenda de café enfrentará seus próprios desafios e vantagens únicas. E para melhor apoiar a indústria de cafés especiais, os torrefadores devem se esforçar para obter café de diversos produtores.
Com o aperfeiçoamento das técnicas de plantio e processamento pelos pequenos produtores e com o aumento na demanda por café especial, os pequenos produtores que conseguirem melhor qualidade de seus grãos, irão conquistar mais espaço no mercado e ampliar toda oferta de cafés especiais de máxima qualidade.
Mas dado o foco nos pequenos produtores e nas grandes fazendas de café, pode ser fácil esquecer que os produtores médios também desempenham um papel fundamental nos cafés especiais. A valorização de todas as categorias de produtores é muito importante para o crescimento de toda a rede que engloba o mundo do café.
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